domingo, 11 de julho de 2010

História Naquela Vila

A extração do ouro logo interessou a Corte em organizar as burocracias para o erguimento da vila, e após autorização da Carta Régia em 27 de novembro de 1723, o Vice-Rei encarregou o Coronel Pedro Barbosa Leal, a erigir em 1724 a “Vila de Nossa Senhora do Livramento das Minas do Rio das Contas”, com antiga sede onde é o município de Livramento. Entretanto, as enchentes nas épocas chuvosas e com as cheias dos rios, traziam doenças infecciosas que provocavam a chamada “febre de mau caráter”, o que levou a mudança da sede da vila. Assim sendo, D. João V, rei de Portugal, em 2 de outubro de 1745 autorizou a transferência da vila ao conde André de Melo e Castro, 5º vice-rei do Brasil, que no frio inverno de 1746 instalou a “Vila Nova de Nossa Senhora do Livramento das Minas do Rio de Contas”, no planalto da serra, duas léguas de rio acima, lugar onde nasceu a primeira cidade planejada do Brasil, em meio a um Contexto Histórico bastante peculiar.
A Igreja Matriz da nova vila já estava pronta para receber a freguesia do novo padroeiro, transferindo-se de Santo Antônio do Mato Grosso para o Santíssimo Sacramento, das Minas do Rio das Contas. A provisão real de 1745, enviada pelo rei, também autorizou a construção da Casa de Câmara e Cadeia (hoje o Fórum), do Pelourinho, da casa de fundição (hoje Câmara Municipal), abertura de ruas e praças e construção de casas. A Vila das Minas do Rio das Contas tornou-se cidade em 28 de agosto de 1885.
A festa mais tradicional da cidade, em que cantos e procissões são realizados para o Santíssimo Sacramento, o padroeiro de Rio de Contas, geralmente ocorre no mês de junho.
Atualmente, a cidade de Rio de Contas foi nomeada a cidade baiana da cultura de 2010, pelo Estado da Bahia.


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Conheça o Contexto Histórico

Contexto Histórico

Rio de Contas reluziu muito ouro no século XVIII, e a Mineração definitivamente se consagrou em 1726, quando a Casa de Fundição foi inaugurada. Mas o posterior fim do ciclo aurífero no fim deste século pra o início do século XIX culminou na Produção Agrícola e a Violência no Alto Sertão, elementos próprios de um centenário que estava apenas se iniciando.
Declínio Econômico-social e a Escravidão era o cenário predominante a partir da década de 1840, em que o contexto da realidade Riocontense nesse período se agravava. A primeira metade do século XIX foi um período marcado por Secas e Lutas que caracterizaram um cenário social bastante contraditório. Mas uma suave Luz no Fim do Túnel Escravo começava a dar sinal no começo da segunda metade, até que finalmente o Fim da Escravidão e a Fome no Sertão encerrou o século XIX de muitos açoites em meio às alumiadas minas de muito ouro.

Mineração

A Casa de Fundição de Rio de Contas foi criada em 1726, com a intenção de recolher o pagamento do quinto. O restante do ouro, depois de fundido em barras, era entregue ao minerador e estava pronto para ser levado pra fora da capitania. Os escravos localizavam e mineravam o ouro, mão de obra fundamental para este tipo de trabalho.
Mas o posterior fim do ciclo aurífero no fim deste século pra o início do século XIX culminou na Produção Agrícola e a Violência no Alto Sertão, elementos próprios de um centenário que estava apenas se iniciando.

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Produção Agrícola e a Violência no Alto Sertão


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Produção Agrícola e Violência no Alto Sertão

O início do século XIX foi marcado pelo fim do ciclo do ouro, com o esgotamento das jazidas e a conseqüente decadência econômica em Rio de Contas.
A partir da década de 1820 o Brasil passava por um momento delicado na política, em que o movimento antilusitano e as idéias republicanas se aproximavam das camadas pobres. Homens brasileiros de várias classes sociais e etnias, diante de agressões e movimentos de rua, contestaram os incômodos privilégios e prestígio dos portugueses, e iniciaram atos de perseguição, como saques e mortes instaurando um cenário de muita violência. Esta situação encontrou no Alto Sertão baiano palco propício para a formação de tropas formadas por homens livres na disseminação não só desse sentimento antilusitano, como também dos propósitos políticos do mata marotos. A Vila das Minas do Rio das Contas ao longo dos anos 20 do século XIX tornou-se local dos interesses políticos desse grupo, que usavam a violência para a manutenção da ordem e abuso de poder por autoridades locais, que se misturaram com os movimentos da independência na disputa entre os brasileiros na expulsão e assassinatos de portugueses.
O Declínio Econômico-social e a Escravidão era o cenário predominante a partir da década de 1840, em que o contexto da realidade Riocontense nesse período se agravava.


Sugestão:
Declínio Econômico-social e a Escravidão


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Mineração
Produção Agrícola e Violência no Alto Sertão


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Declínio Econômico-Social e Escravidão

A falta de perspectiva de ascensão social e material dos livres pobres, já seguido do aumento dessa parcela populacional sobreposta pela criminalidade em alta, favoreceu a manutenção da violência na ordem escravocrata, a partir da década de 1840, geridos por um grave descontrole social.
Em 1844, a descoberta de diamantes em Mucugê e Lençóis ajudou a deflagrar ainda mais a fragilidade da economia Riocontense. A criminalidade, misturou-se também aos conflitos entre negros e brancos, frente de resistências, revoltas escravas e negociações entre os vários grupos sociais, segundo a historiadora Nanci Lima em seu trabalho “A exploração aurífera na Bahia oitocentista”.
A autora observa a ineficiência da Justiça sob o Código Criminal de 1832, que “castigava os pobres e beneficiava os de posses, principalmente no que se refere à manutenção dos castigos corporais aos escravos”.
Clara Maria da Conceição açoitara até a morte a escrava Anna, usando um instrumento contundente na coxa, pescoço e nádegas. A escrava andara fugida dos seus Senhores em Casa de Telha e foi morta por castigos empregados por sua senhora”, trecho de um processo crime, no dia 18 de novembro de 1843. A escrava assassinada já sofria de sífilis antes da surra que a levou até a morte.
A primeira metade do século XIX foi um período marcado por Secas e Lutas que caracterizaram um cenário social bastante contraditório.


Sugestão:
Secas e Lutas


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Luz no Fim do Túnel Escravo

A situação de desordem, conflitos e a razão da força do trabalho escravo predominar nas fazendas, favoreceram a liberdade dos escravos da cidade, enquanto os do meio rural eram desfavorecidos na conquista da alforria.
A historiografia revelada nos estudos “Alforrias em Rio de Contas – BA, século XIX” (Universidade Federal da Bahia), da historiadora Kátia Almeida, aponta que entre 1800 e 1888, 1.777 escravos foram libertos no município, a maioria residente nas áreas rurais. Os estudos demonstram que a partir da década de 1830, 17,3% dos cativos eram africanos, residentes na vila e povoações e que os cativos predominantes até 1830, eram crioulos (nascidos no Brasil), resultantes da dinâmica econômica da época, antes da extinção do tráfico negreiro ocorrida em 1850.
A partir desse período não houve mais participação do município na compra de escravos vindos da África, embora um pequeno número de escravistas detivesse um grande número de escravos nas suas propriedades.
Porém, a extinção do tráfico no Alto Sertão ocasionou dificuldades para os cativos conseguirem suas alforrias devido à valorização da mão de obra escrava com o tráfico interprovincial. A conquista da liberdade foi usada pelos senhores como meio de controle perante os prisioneiros, que por sua vez, se inseriram nos processos de negociações para obtenção da alforria, principalmente após a Lei do Ventre Livre de 1871, acabando por modificar o cenário escravista, que se viu submetido a pressões para obtenção da liberdade por parte dos escravos.
Até que o Fim da Escravidão e a Fome no Sertão encerraram o século XIX de muitos açoites em meio à terra reluzente a ouro.


sábado, 10 de julho de 2010

Fim da Escravidão e a Fome no Sertão

Em 1888, foi abolida a escravatura, embora o estigma do sangue negro persistisse em vários aspectos na vida dos ex-escravos que ainda sofreram muito com as secas sazonais ocorridas no período, causando desabastecimento, fome e mortes. Esses fatores afastaram produtores que migraram e provocaram séria crise na economia local. Idas para o litoral e outros lugares da Chapada Diamantina foram as vias alternativas, na fuga da seca, que dizimou grandes contingentes populacionais.

Terra de Riacho das Pedras


A terra de Riacho das Pedras agora respira debaixo d’água, enquanto a maioria de seus membros se dispersou Bahia à fora. “Essas famílias foram para a periferia de Rio de Contas, Livramento, Salvador, São Paulo, Rio, Brasília, Paraná. Daqui também, porque foi um desânimo depois da barragem, o pessoal começou a abandonar, a barragem ia tomar tudo, as terras, tudo inundadas”, lamenta Seu Carmo.
Embora alguns moradores não possuíssem os títulos e escrituras das terras, pelos muitos anos de habitação a posse era garantida. No entanto, Carmo afirma que, por inocência, os moradores que tinham os certificados de propriedade das terras deram os papéis ao DENOCS, que em troca prometeu levar benefícios para a comunidade, como atendimento à saúde e educação. O resultado foi quando o órgão comunicou que todos abandonassem as terras, “e até hoje não foi resolvida a questão, porque o DENOCS não pagou um pau de terra pra essas pessoas, até hoje na foram pagas”, afirma Carmo. O Governo por sua vez, além de prever que a indenização seria feita tendo como base somente as casas e construções, e não considerando o valor total das terras, também não cumpriu as promessas de urbanização das vilas, saneamento básico, treinamentos agrícolas e programas sociais, conforme eram previstos no projeto.
Em dezembro de 1999 a propriedade, de aproximadamente 1.400 hectares de terra, retornou do Estado para as originárias mãos dos quilombos de Barra e Bananal, em definitivo, concedida pelo Governo Federal, sendo os títulos emitidos pelo Estado.
Atualmente, “nós temos uma ação no Ministério Público Federal, junto ao DENOCS”, relata o líder Carmo, referindo-se ao processo que se arrasta na justiça à respeito da indenização pelas terras desapropriadas, que até hoje não foram quitadas.

Secas e Fome no Sertão



A grande seca que arrasou a região na década de 1930 ocorreu num período bastante difícil para as aldeias quilombolas, conta Carmo Joaquim da Silva, quando no tempo vivido por sua mãe. “Nos anos 39, teve uma grande fome aqui na região. Uma seca. E houve fome mesmo. Minha mãe tinha casado e ela teve o primeiro filho. Foi difícil, ela passou um dia sem comida e com fome. Achou uma raiz de mandioca na estrada, um pedaço de mandioca, botou no dente, mastigou tava doce”. A mãe de Carmo, a já falecida Dona Lindaura Maria de Jesus, levou pra casa e cozinhou com farinha a raiz da mandioca braba e quase morreu, mas não deu ao primogênito Manoel, irmão de Carmo. “Ela comeu, ela xingou. Só que ela não deu ao menino não, não deu ao meu irmão não”, relata Carmo, e continua, “tinha outra farinha de bolacha lá, e ela fazia mingau pra ele. Ela que comeu”.



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Reisado


O reisado é uma festa popular que acontece no período natalino, que vai de 24 de dezembro a 6 de janeiro, em que se comemora o nascimento de Jesus Cristo com versos referentes a viagem dos Reis Magos pelo Oriente, a trazer a boa nova do Deus Menino.  A tradição foi trazida ao Brasil pelos portugueses na era colonial.
Mas outros elementos como a Recomendação das Almas, O padroeiro do Quilombo, o Bendengó e o Artesanato compõem a cultura do povoado negro.

Recomendação das Almas


A Recomendação das Almas é uma tradição religiosa que acontece durante a quaresma e os ritos da Semana Santa. Orações e vários cânticos são entoados em louvor aos parentes e amigos que já morreram, homenagem aos ancestrais. Geralmente a Recomendação das Almas se realiza em dias de números ímpares à noite, sendo a sexta-feira da Paixão o dia em que os devotos iniciam uma caminhada noturna ao cemitério e em silêncio. A meia noite (horário em que os mortos chegam ao mundo dos vivos), o ponto alto da procissão, velas são acesas e outros cânticos são entoados. Na volta, o grupo deve parar em alguns pontos significativos para a comunidade, em cinco, sete, ou nove (um número ímpar determinado pelo padre-mestre), como casas existentes no passado, cruzeiros ou encruzilhadas, onde mais cânticos são entoados, sendo estes oferecidos as almas do purgatório, do cemitério, dos necessitados, de pai e mãe, dos afogados, da encruzilhada, dos ofendidos (mortos devido à picada de cobra), do sertão, dos atirados (mortos à bala), e da tapera (casas habitadas no passado).

Bendengó


Acompanhado de roda e palmas, o bendegó tem origens na África, é uma dança realizada originalmente por negros oriundos da Costa de Mina. A realização do bendengó ocorre geralmente dentro das festividades populares católicas, praticado nas localidades quilombolas em Rio de Contas. Mesmo assim, marca explicitamente uma prática eminentemente negra e distintiva.
Esse samba feito aos pares, segundo Carmo Joaquim da Silva, está como projeto da comunidade para ser considerado patrimônio cultural, apresentações dessa dança foram feitas, pelo grupo, em Salvador e em municípios da Chapada Diamantina. A dança revela a herança africana. “Antigamente tinha mais, porque hoje precisamos de material, roupa própria, os instrumentos vão acabando”, diz Carmo a respeito da escassez dos recursos para uma organização e preservação dessa cultura.



São Sebastião


Santo branco nascido na Itália, alistou-se no exército romano com a intenção de afirmar o coração dos cristãos frente às torturas sofridas por volta de 283 d.C. Num momento em que os cristãos eram perseguidos, acabou por ser denunciado e preso pelas tropas romanas.  Por ter sido condenado à morte, sofreu tentativa de execução por flechas, estando amarrado em troncos de árvore. Mas foi encontrado ainda em vida por uma cristã de nome “Irene” que o teria levado para casa ajudando-o com os ferimentos. Em poucos dias São Sebastião restabeleceu-se e decidiu apresentar-se ao rei Diocleciano, que ordenou que o soldado fosse açoitado até a morte em 286 d.C.



Acesso os outros elementos culturais:

Artesanato do quilombo


As artesãs trabalham com material de sacaria e pano selecionado por crivo (triagem) rústico, produzindo peças como bolsas de vários tamanhos, blusas, chapéus e faixas para o cabelo. Carmo Joaquim da Silva, líder da comunidade, diz que elas “fazem vários modelos, de bordado à tudo. Aprenderam através de um curso que o SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) promoveu aqui. Está ligado ao resgate, mas assim, precisou de curso também como um incentivo. Mas no passado tinha, que hoje não tem mais, fiar linha na mão, com o próprio fuso, enfiava as linhas, naqueles baús velhos que tinha... Eu sei que minha mãe e minha tia fiavam naqueles baús velhos cheios de linha, tudo na mão. Não era nada de máquina não, na mão mesmo. Com aquelas linhas, tecia, e fazia os panos”.



Acesso os outros elementos culturais:

Desafios e Superações

Momento Desafiador

“Pra eu me formar foi difícil, porque eu tinha que sair daqui com 11 anos pra ir em Rio de Contas estudar. Morei lá durante seis anos numa casa de família. Eu trabalhava durante o dia como empregada doméstica na casa de um senhor e estudava durante a noite. Nos meus dois últimos anos do ensino médio que eu comecei a ir e voltar todos os dias, de lá pra cá (do quilombo para Rio de Contas), caminhava muito, era um horror...
Mas consegui me formar, e depois fiz o concurso da Prefeitura. Passei no concurso graças a Deus, e comecei a trabalhar na área de saúde numa comunidade longe. Eu andava 23 km, um gelo, era sofrido, eu ia ficava lá a semana e voltava na sexta-feira. Quando apareceu outro concurso em 2001 para professora, fiz e consegui passar, momento em que comecei e trabalhar aqui na comunidade... Mas depois de muito tempo! Até hoje estou aqui. Casei, tenho outro filho e não penso em sair daqui.
Adoro minha profissão, meu sonho! Quando eu era agente na área de saúde, trabalhava por necessidade, porque não tinha outra opção. Mas trabalhar com criança, ainda mais na educação infantil, é o que eu mais queria, é minha paixão. Eu fiz normal superior, terminei ano passado, e eu pretendo com fé em Deus fazer faculdade de pedagogia um dia. Meu sonho! Meu sonho! Com fé em Deus!”, conta sua história de vida, a professora Sandra. Própria de uma suavidade, raramente já vista, a quilombola é cheia de vida nas palavras, carregadas de uma experiência vivida por muita luta e amor.


Secas e Luta

As secas também castigaram na metade do século XIX, ao mesmo tempo em que alternativas como a policultura nos minifúndios e criação de animais se davam paralelas às relações de poder, na ordem jurídico-política determinada pela metrópole portuguesa. Pesquisas comprovam a existência de uma sociedade contraditória: de um lado uma vida social com alto nível de riqueza, e do outro a escravidão e a miséria das populações afro-brasileiras.
A mão de obra escrava, sem dúvidas, foi o que assegurou o sustento da região, que tanto na pecuária, quanto no transporte, agricultura, artesanato ou prestação de serviços, necessitava do trabalho forçado para garantir a estrutura econômica, em meio a muitos conflitos sociais.